sábado, 12 de junho de 2010

Poesia do movimento.

   As palavras, ás vezes dizem demais. São genericamente consideradas como o ápice da comunicação e da compreensão humana. Porém, há certa contrariedade nisso, ou seja,  mesmo sabendo ser a palavra um ponto forte da comunicação, é  reconhecível que nem tudo é perfeitamente comunicado e compreendido através dela. Porém, a questão não é exatamente essa

abstrair

   Seja falando ou escrevendo, palavras são, muitas vezes, mais objetivas que o movimento.  Mas há um exemplo do uso das palavras que, pelo menos a meu ver, é muito fácil perceber a subjetividade que forma um movimento. A poesia hai-kai, na simplicidade de suas três linhas, mostra muito em poucas palavras. Através da cultura oriental do micro, as coisas são reduzidas no intuito de serem sintetizadas, fáceis de guardar, só que num conceito diferente: de que com pouco se pode fazer muito, de que no micro vê-se o macro e assim, chegando à idéia de que no vazio pode haver completude.

sonho colorido

o sol dança com a lua

você comigo

Carlos Seabra

Vamos embora ver

A neve caindo

De cansaço

                      Estas pimentas:

                      Acrescentai-lhes asas

                      E serão libélulas.

Ah, o velho lago.

De repente a rã no ar

E o baque na água.

                      Molhadas,

                      Inclinadas:

                      Peônias sob a chuva.

Admirável

Aquele que diante do relâmpago

Não diz: a vida foge.

Bashô

Quietude --

O barulho do pássaro

Pisando em folhas secas.

Ryushi

- Quantas maritacas!

O estouro revela

um sorriso contido.

Rafael Noris (blog Hai-kais)

 

 

do sentimento pra fora

   Pina Bausch, mais do que com palavras, parte do movimento para expressar o sentimento. Como ela mesma diz, "o que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”. Então, uma ponte com a dança Butoh pode ser estabelecida uma vez que, em uma entrevista, Kazuo Ohno - recentemente de volta ao seu mundo das sombras, é uma  grande perda e também uma grande admiração como ser eternamente brilhante na arte Butoh -  diz:

Cada dançarino tem seu próprio butoh. Não existe um método, porque a dança é a expressão do interior de cada um. Por isso é singular em cada pessoa. Para mim, o butoh é, com palavras simples, apreciar a vida, minha e dos outros.

   Sem mais palavras, deixo aqui algumas imagens em movimento. Imagens que podem renovar a alma. Ou, pelo menos, renovaram a alma de quem interpretou. Ativando o mínimo de sensibilidade que há em cada um de nós e com paciência e atenção, é possível sentir o que não é falado através dessas novas danças, dessas performances.

   No cinema, uma coreografia de Pina Bausch foi utilizada em Hable con ella, de Almodóvar. E no recente e maravilhoso filme alemão, Hanami – Cerejeiras em Flor, da diretora Doris Dorrie, a dança aparece como condutora essencial para canalizar os sentimentos dos personagens.

Coreografia de Pina Bausch em Hable con Ella

Coreografia de Kazuo Ohno para o filme Hanami - Cerejeiras em Flor
 
  
   Para acrescentar, deixo alguns vídeos com danças butoh que tocam o fundo da alma com sua frieza, com seu figurino cru, com rostos fantasmagórico. Esse tocar sombrio que vira fogo e arde, é porque toca – e é essa a verdadeira chave dessa linda perfomance – o verdadeiro sentimento do ser na sua maior distração de um movimento perdido.

Grupo Sankai-Juku, coreografia de Ushio Amagatsu.

Performance de Ikeda Carlotta, dançarina.

Performances de Kazuo Ohno.

 

Links: “A Experiência de Assistir a um espetáculo de Butoh” – Made in Japan:   http://bitw.in/w2  e  Pina Bauch: tudo é dança:  http://bitw.in/w3

Related Posts with Thumbnails

wibiya widget