segunda-feira, 8 de junho de 2009

Será que é por isso que o céu é tão imenso?

O telefone toca. Estremeço. Alguém atende. Fecho os olhos, apertados. Me contraio por uns segundos. Pela voz de quem atendeu percebo que não é nada grave. Relaxo.

Um telefonema pode trazer uma notícia pesada, nada agradável. Foi assim da última vez. (Não da última vez que alguém morreu, mas da última vez que recebi um telefonema pesado.) Estava a escovar os dentes, era tarde da noite. Não esperava nada da vida naquela momento. Mas também não esperava nada da morte. O dia estava tão comum. Me pergunto até hoje o por que daquele dia estar tão comum.

Não é normal alguém virar uma estrela, um anjo. É algo de supremo respeito e grande beleza alguém deixar de lado todo essa matéria que nos prende. Admiro quem vai. Vai e não leva nada. (Ou leva-se tudo.) Deixa tudo aqui, até a própria pele. Então me pergunto até hoje o por que daquele dia estar tão comum.

O celular vibra. Mensagem! Abro e me deparo com uma foto estranha. Uma coisinha meio amassada, com um olho um pouco mais aberto que o outro, a boca torta, as mãos fechadas em punhos. Meu deus! Alguém nasceu! Que maravilha! Que carinha de joelho!

Como se fosse normal nascer. Vestir de rosa ou azul-bebê, enfeitar o lugar com bichinhos, falar errado. Admiro quem vem. Deixa de lado todo aquele universo paralelo pra crescer aqui nessa terra em meio a tanta mentira.

Achei engraçada a forma de comunicação. Quando alguém morre ninguém tira foto e manda pelo celular. Mas notei que para ambas ocasiões há flores.

Ah, as flores… Representando a natureza que se faz ciclo imortal. Nasce e morre e assim é infinitamente imortal. Passa por cima do concreto, resistirá até o último segundo à qualquer abuso. E será que existirá o segundo final da natureza? Não creio.

Olho pro céu. Nenhum telefone toca, nenhum celular vibra. As buzinas estão distantes, as vozes são quase mudas. O vento canta alto e não há chão. O céu tem todas as cores e todas as dimensões. O céu tem todos os amores, e é no céu que está o ar que respiramos.

Tantas pessoas se vão... Será que é por isso que o céu é tão imenso?

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