segunda-feira, 21 de abril de 2008

Muito o que pensar nesse feriado: Tirar os Dentes?


Hoje foi um típico dia de feriado: não fiz nada. Quem ficou de me ligar não ligou, então não teve cinema com direito a guaraná de máquina. Mas também, não corri atrás de ninguém. Fiquei aqui lendo livro na cama, no sofá, na poltrona, no tapete...

Hoje foi um típico dia de feriado: solitário mesmo em família. Na hora de comer junta os três a mesa e depois cada um se enfia num canto da casa e cai na sua própria morbidez que só um feriado pode trazer.

E assim vai uma tarde. Nada pra pensar. Só uma coisa me incomodava...

Mas de resto, é aquele chove não molha mas que faz frio. É aquele pôr-do-sol laranja avermelhado e é aquela saudade de abraço grande com o braço grande do meu homem grande.
É vontade de tomar chocolate quente até ter overdose.
Mas é só vontade. A verdade é que só bebi água e chá.

No final da tarde, não choveu mais: fui comprar comidinhas.
A caminho pensei em escrever esse texto. Mas ainda sim, a tal coisa me incomodava

Pães, bisnaguinhas, rosbife, queijo, uma barra de chocolate milka. "Moça, arredonda o valor com balinha de hortelã, por favor."
Os mocinhos da padaria sempre cordiais: foi para um deles, o que me atendeu, que gastei meu sorriso de agradecimento com um pouco de ternura (precisava dar um sorriso de ternura).
As vezes, ninguém ouve minha voz baixa mas vê meu sorriso que, modéstia a parte, é perfeito.

Na volta pra casa aquela coisa que me incomodava veio á tona: tiro ou não os dentes do ciso?
Essa questão pré-traumática ficou tanto na minha cabeça que nem comi.

Então me sento aqui e ouço Lucy in the sky como se tivesse 64 anos lembrando dos 18 com ternura, só que dessa vez sem sorrir. (Com 64 anos ficar mostrando os dentes sem os 4 juízos? Não...)


Só fica no olho aquele brilho de quem de repente sente falta dos dias agitados com os amigos. Deve ser o frio que dá essa sensação de ausência a todo momento. E nem está tão frio...

Não tenho mais em que pensar. Pensar no amor é respirar a todo momento. Pensar nos amigos é comer chocolate. Pensar na dor é pensar em dor física, tipo dor de dente. Porque dor que é dor de verdade, que é aquela que dá no fundo do peito, não se comenta, só deixa passar.
Pensar no quê, agora? E então, bruscamente decido: não vou tirar os dentes do ciso!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Música Moderna


Eram, mais ou menos, dez horas da manhã do dia anterior ao anterior de hoje. Dia de sol e vento fresco. Não gelado, fresco.

A bela vista que tenho do nono andar se resumia em resquícios de prédios perdidos na poeira poluída acumulada durante apenas dois míseros dias de correria e muito trabalho.

Mas eu não estava olhando para a bela vista. Olhava outra janela, com duas abas. Uma janela que continha, do lado de quem vê, cidades construídas por letras. Me aprofundava dramaticamente na leitura. Daquelas que você espreme o olho de tanto devorar páginas e páginas.

Estava ali, debaixo dos lençóis, apoiada no travesseiro, segurando o livro como se fosse um filho meu quando um som passou por barreiras de poluição, algumas janelas e alguns andares, atravessou a pequena rua sem saída e invadiu meus ouvidos, meu olho espremido, minha leitura!

Foi chegando de fininho, ouvia bem baixo o estranho ruído no meu ouvido direito (mais que no esquerdo). Veio assim, como quem não pede permissão e já vai invadindo corpo e alma.

Era um sax, talvez. Não conheço bem instrumentos, mas sei bem apreciar. E eu estava gostando, tocava bem, o estranho! Quem seria esse intruso musical?

E como que de repente, o som estava ali de segundo plano e eu com as minhas letras, profundas. Como se o som parasse pra eu ler. Mas não parou esse tal de sax. Quem seria esse intruso musical?

Ainda perdida nas letras, o som da britadeira lá fora. Mas de novo um ruído me atrapalhando. "Será possível? Que diabos estão quebrando?"
E a reforma do sétimo andar? Tão destruidora que parece que martelam em cima de nossas pobres cabeças. E um som de jazz lento que parece mais um blues agitado que vinha não sei de onte. "Quanto barulho!"

Ou seria música?
De repente volto ao consciente. "Cadê as letras?"
Perdi meu filho-livro nos lençóis!

"Cadê meu livro?" ................. "Deixa pra lá!"
Fiquei admirando o armário em minha frente, mas com o olhar longe. Longe até os ouvidos.
Quanto som, barulho, ruído e esse tal de sax! Quem seria esse intruso musical?
Quem seriam?

E todos juntos lá de fora gritaram "Isso é o que chamamos de música moderna!".


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