segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Coração à mesa.

Hora de preparar o jantar: muito tofu, suco de laranja e sopa de galinha. De sobremesa, gelatina.

Reparei que meu coração parece uma gelatina – isto foi mesmo hoje, quando o apalpei na hora do pôr do sol. Não é como o gelo, duro e frio. Não é como a água que corre, límpida.

Meu coração é mole mas consistente. O que é isso, então?

Um pôr do sol belíssimo bate à minha porta. Atendo. Ele sorri. O deixo entrar. Vestido todo de roxo, azul, vermelho, amarelo queimado, estava especialmente bonito. Mas depois se envergonhou. Foi indo tímido embora. Não senti aproximação. Cadê a fervura fria de um fim de tarde?

Meu coração quis explodir de alegria, dor e mistérios mas ele não conseguiu. Só ficou ali observando o sol se pôr.

Me bateu um cansaço. Cansaço de quem cutucou a pedra imóvel. A fez mexer, a acolheu e depois que a pedra ganhou vida, fui abandonada. Isso realmente cansa. Não por insistência mas porque parece que dói.

Cansei. Senti por dentro algo balançar. Queria que essa coisa – o coração – derretesse de amores. Mas ele não derreteu.

Meu coração é uma gelatina. Vou continuar conservando na geladeira. Até ser comido. Até ser servido, finalmente, na mesa do jantar de um futuro amor passado.

pinacoteca 011

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

I once had a girl, or should I say, she once had me…

casal

Uma das minhas recentes paixões literárias se resume em um autor contemporâneo e muito marcante. Com sua narrativa novelística, Haruki Murakami desenrola seus romances de forma que sem perceber, você já está submetido aos entrelaces da história.

É a segunda obra do autor que leio e já virei fã. Em Norwegian Wood, Toru vive em uma Tóquio com as novidades da boa cultura dos anos 60 e também vive seus embates internos que caminham entre angústia e amor, passando por paixões e sexo, com um bocadinho de jazz e uma boa pitada de Beatles.

Após reencontrar Naoko, a namorada de seu falecido melhor amigo, ele se apaixona perdidamente por ela. Isto somado à suas outras desventuras da juventude como sua ida à faculdade, as dificuldades de conviver com desconhecidos e novas paixões, fazem do enredo uma teia que a princípio parece embaraçosa, mas no final você fica com a impressão de que ao desembaraçar, um nó é formado. Ou seja, as coisas caminham, mas não necessariamente pra frente.

É disso que faz Murakami um bom romancista. A novela é trágica porém sutil. É doce e amarga. Me agrada sua sensibilidade de retratar a tragédia com doçura e lirismo.

Resumiria que este autor, em suas únicas duas (e poucas) obras que li, traz uma leitura que transparece toda a beleza que uma tristeza densa e mágica pode ter. 

  Murakami em momento reflexivo.

capa do livroUma das versões de capas para o livro  

Fonte imagens: http://www.flickr.com/photos/zengkilebron                                                                       http://www.flickr.com/photos/manganite

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