As palavras, ás vezes dizem demais. São genericamente consideradas como o ápice da comunicação e da compreensão humana. Porém, há certa contrariedade nisso, ou seja, mesmo sabendo ser a palavra um ponto forte da comunicação, é reconhecível que nem tudo é perfeitamente comunicado e compreendido através dela. Porém, a questão não é exatamente essa…
abstrair
Seja falando ou escrevendo, palavras são, muitas vezes, mais objetivas que o movimento. Mas há um exemplo do uso das palavras que, pelo menos a meu ver, é muito fácil perceber a subjetividade que forma um movimento. A poesia hai-kai, na simplicidade de suas três linhas, mostra muito em poucas palavras. Através da cultura oriental do micro, as coisas são reduzidas no intuito de serem sintetizadas, fáceis de guardar, só que num conceito diferente: de que com pouco se pode fazer muito, de que no micro vê-se o macro e assim, chegando à idéia de que no vazio pode haver completude.
sonho colorido
o sol dança com a lua
você comigo
Carlos Seabra
Vamos embora ver
A neve caindo
De cansaço
Estas pimentas:
Acrescentai-lhes asas
E serão libélulas.
Ah, o velho lago.
De repente a rã no ar
E o baque na água.
Molhadas,
Inclinadas:
Peônias sob a chuva.
Admirável
Aquele que diante do relâmpago
Não diz: a vida foge.
Bashô
Quietude --
O barulho do pássaro
Pisando em folhas secas.
Ryushi
- Quantas maritacas!
O estouro revela
um sorriso contido.
Rafael Noris (blog Hai-kais)
do sentimento pra fora
Pina Bausch, mais do que com palavras, parte do movimento para expressar o sentimento. Como ela mesma diz, "o que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”. Então, uma ponte com a dança Butoh pode ser estabelecida uma vez que, em uma entrevista, Kazuo Ohno - recentemente de volta ao seu mundo das sombras, é uma grande perda e também uma grande admiração como ser eternamente brilhante na arte Butoh - diz:
Cada dançarino tem seu próprio butoh. Não existe um método, porque a dança é a expressão do interior de cada um. Por isso é singular em cada pessoa. Para mim, o butoh é, com palavras simples, apreciar a vida, minha e dos outros.
Sem mais palavras, deixo aqui algumas imagens em movimento. Imagens que podem renovar a alma. Ou, pelo menos, renovaram a alma de quem interpretou. Ativando o mínimo de sensibilidade que há em cada um de nós e com paciência e atenção, é possível sentir o que não é falado através dessas novas danças, dessas performances.
No cinema, uma coreografia de Pina Bausch foi utilizada em Hable con ella, de Almodóvar. E no recente e maravilhoso filme alemão, Hanami – Cerejeiras em Flor, da diretora Doris Dorrie, a dança aparece como condutora essencial para canalizar os sentimentos dos personagens.
Links: “A Experiência de Assistir a um espetáculo de Butoh” – Made in Japan: http://bitw.in/w2 e Pina Bauch: tudo é dança: http://bitw.in/w3
Muito bom seu post! Para além de butoh, já postei várias vezes sobre haiku.
ResponderExcluirTambém amo a Pina Bausch, o filme alemão não conhecia...
E tem razão em relação a MONGE.
Beijos
Obrigaga pelas visitas
Queria dizer OBRIGADA!
ResponderExcluirOlá, Cau
ResponderExcluirtomara que encontre o que busca no haicai.
A mim ele trouxe mil belezas.
Se puder visite o blog:
http://fieiradehaicais.blogspot.com/
Um abraço,
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vento cortante –
enrolado na bandeira
passa o torcedor
-
josé marins
Muito interessante o post!
ResponderExcluirA simplicidade tem conexões com o nosso ser que vão ainda mais longe que o aspecto sensível. São coisas simples, sutis, que nos preenchem...
O haicai e e o butoh vão muito além de seus gêneros, haicai é mais que poesia e butoh é mais que dança, é uma maneira de dar novo sentido àquilo que nos cerca, é uma maneira de respeitar tudo, se integrar ao todo... Ao menos pra mim...
Estou te seguindo agora, adorei o blog!
Abraço.
Cau,
ResponderExcluirmuito belo o post, sobretudo o vídeo com as imagens do filme Cerejeiras em Flor, me trouxe a lembrança da última vez em que me emocionei de verdade no cinema. Coisa mais do que rara hoje em dia!
na concepção de arte na parte ocidental do mundo, existe um movimento chamado "minimalismo" onde na música, por exemplo, enquadram o yann tiersen e na literatura, os micro contos do brasileiro dalton trevisan. é bonito.
ResponderExcluirsão apenas exemplos...