segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A igreja do outro lado da rua.

Haviam seis mosquinhas no box do meu banheiro. Surgiram de repente. Matei três com o pano do chão e elas caíram mortinhas, uma a uma. Quando fui tomar banho, aqueles cadaverzinhos foram escorregando ralo abaixo junto com o sangue que denunciava a minha falta de gravidez. Faltavam três.


Na rua, as luzes do poste iluminavam as lojas há muito fechadas. Fechadas há mais de 24 horas se não me falham as contas. Poucos carros, quase nenhum transeunte. Caminho na direção da avenida principal. Ao longe, naquele prédio antigo, da meia porta que estava aberta avistei uma luz amarela. Ninguém à vista. Entro pelo corredor vazio, subo as escadas. Tudo escuro. Sento. O filme começa.


Me sentia estranha. Caminhando pelas ruas, as luzes do poste iluminavam as lojas há muito fechadas. Fechadas há mais de 24 horas se não me falham as contas. Barulhos. Burburinhos. As poucas pessoas, por um instante, me pareciam meros figurantes. Mas eu não era a atriz principal.

Passo em frente a um portão. Um portão de casa em meio a tantas lojas. Lojas fechadas há mais de 24 horas. Tenho certeza. Mas aquele portão… A placa indicava: Dr. Otsuki ou algo do tipo. Não lembro se era um dentista ou um oftalmologista. Não importa. Acho que era Otsuki o que estava grafado na placa de madeira pendurada em cima do portão. Um portão de casa em meio a tantas lojas. Olhei brevemente, de canto de olho, rápido, bruscamente. Mas vi, mesmo assim, a imagem. Para além do portão, avistei a rua paralela da que eu me situava.


A rua paralela da que eu me situava tem uma igreja. A única coisa alta e luminosa num diâmetro de 60 graus em relação a esse bairro. E quando dá três horas, três badaladas. Faltavam matar três moscas. E quando são três horas e meia, o sino só bate uma vez. Dá pra ouvir daqui de casa. Quando há silêncio eu conto as batidas. Uma por uma. Três moscas. Ainda vivas no box do meu banheiro.


Mas eu estava ali, na frente do portão do Dr. Otsuki vendo a igreja que ficava do outro lado da rua. Mas como? Me parecia que para além do portão não tinha uma porta concreta como tem em todos os estabelecimentos que tem um portão. Não tinha nada além do portão. A casa era vazada e dali eu podia ver o outro lado da rua. Mas o que eu via especificamente do outro lado da rua era a igreja. Perfeitamente enquadrada no portão do Dr. Otsuki.


Três moscas. O sino bate. Uma única vez. Meia hora de alguma hora havia se passado. Ao olhar pro chão encontro o trançado de canudos que nunca consegui arrematar.

Sim, nos bares sujos, na hora do tédio ou do nervosismo, escolhia um canudo rosa e um azul e os entrelaçava como uma trança de dois fios. Mas eles sempre se soltavam…

O sino da igreja que podia ser vista através das frestas do portão do Dr. Otsuki que estava em meio a tantas lojas que estavam fechadas há mais de 24 horas, tenho certeza, bateu onze vezes.

Entrei em casa. As três moscas que faltavam matar haviam sumido.

3 comentários:

  1. ´Se não matasse as mosquinhas talvez os sinos não batessem tantas vezes , talvez vc pudesse enxergar o que realmente estava dentro da casa do Dr.Japa.

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  2. Me mostra a casa do tal Otsukiiii. :D

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Comentários.

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