domingo, 10 de outubro de 2010

I just believe in me, Yoko and me.

Cumprindo a parte burocrática e clichê do dia, hoje é o 70º aniversário de John Lennon. Do cabelinho tigela, paletó e ié, ié, ié à barba, cabelão, óculos redondo e give peace a chance, ele não deixou de ser um gênio, um poderoso ativista pela paz e principalmente, um grande artista. Isso é notável. Nosso cérebro já está lavado com essas informações. Tão lavado que a paz, o amor and all that stuff, são, hoje, consideradas, ainda mais por nós, jovens antirevolucionários, como foolish stuff. No, we can’t.

Ele não é Jesus, assim como Jesus não é Jesus (ou Deus, se preferirem). Mas assim como Jesus, como Hendrix, como Luther King, como pessoas normais, ele deixou uma mensagem. Além de ter marcado uma geração inteira (e apesar de tudo, repercurtir hoje, de forma um pouco triste, um sentimento nostálgico negativo, em alguns beatlemaníacos pós modernos), o que  pregava não vinha somente dele. O povo, na verdade, se traduzia em sua figura. (Sem, claro, desmercer outras figuras marcantes como, por exemplo, Bobby Seale, entre muitos outros ativistas e artistas dos quais eu não saberia citar.)

O hairpeace, o make love not war, o power to the people, foi produto de um momento político e histórico acontecendo em um pedaço muito pequeno do mundo (não que o estrago que isso causou fosse de tamanho semelhante). Que forma isso repercuti no hoje e no agora? A meu ver, se repercuti em um asco. Parece-me que nós, jovens, criamos uma aversão ao amor livre, à paz, bla bla bla. It’s bullshit!, podemos dizer.

Se somos jovens da classe média e média-alta do Brasil (e aqui digo por São Paulo, que é onde moro), vivemos uma nostalgia cega de ouvir os grandes cérebros da tropicália, defender uma esquerda política xis,  fumar maconha numa casa chique nos altos do bairro pinheiros, tentando, talvez, copiar um estilo de vida mais ou menos nostálgico e europeu. Ou vamos à rua Augusta à procura de cerveja barata, com nossas calças apertadas, nossos tênis americanos, sejamos punks ou emos, tentando copiar, quem sabe, um estilo de vida boêmio americano ou inglês. Queremos estudar, mas odiamos a instituição escolar, política é chato mas ao mínimo, eu tento me informar. Os mais corajosos se engajam numa causa sem fundo dentro de algum partido. E no fim das contas eu quero trabalhar e reproduzir o modelo de família classe média patriarcal da qual eu vim mas atualmente digo que eu tenho que fazer o que eu gosto.

Se futebol, religião e política não se discutem, a arte é melhor nem existir. Não se pode colocar um assunto como esse à mesa, afinal, não somos jovens com sentimento de mudança, de criatividade, de sonhos, de grandes perspectivas para um futuro melhor. O que é o futuro? Vamos viver o aqui e o agora! Sim, porque somos meros reprodutores de culturas estrangeiras, somos escravos do consumismo, do mercado de trabalho, do diploma, das bolsas da fapesp, das marcas de cerveja. Somos socialmente induzidos a sermos no mínimos simpáticos. “Gente boa aquele cara”, nós dizemos.  Temos que ser, por mais fora do padrão que você acha que é, socialmente aceitáveis. Não somos polêmicos, não fazemos arte, não lutamos por nada plausível.  A discussão é aberta, parece que é tudo lindo, democracia e o diabo a quatro. Afundamos num buraco onde tudo é possível.

Não quero enfatizar que a juventude dos anos 70 foi muito melhor que a nossa. Não quero dizer que vivemos totalmente sem perspectivas. Mas se é tudo liberado, então demos à paz uma chance? Tudo que realmente precisamos é só amor? Tem certeza? Não. Nunca foi, nem entre a juventude que pregava isso. Mas convenhamos que o sentimento da época era mais forte até por motivos óbvios de conjuntura histórica.

Hoje tudo é tão possível que não permitimos nada, a carapuça da ditadura serviu na cabeça dos rebeldes e agora a estamos vestindo. Se você que hoje ouve Imagine (não na versão do Sir Elton John, por favor) e disfarça aquele nó que dá na garganta porque sabe que sentir esse nó é cafona por demais, reflita. Nao é pra você virar neo-hippie, vegetariano ou eco chato. Apenas, quando estiver preso num trânsito, preocupado em pagar suas contas num futuro próximo e entregar aquele trabalho que é cópia do que Nietzsche, Marx e Freud já pensaram por você, reflita. Pense no abstrato, no subjetivo. Faça uma versão eletrônica de Imagine, mas cuidado pra não ficar famoso (porque provavelmente a versão vai ficar um lixo), pense na cultura do desprezo e da luxúria que vivemos hoje (ou que, pelo menos, desejamos muito alcançar) e vamos continuar vivendo.

Não sei que saída tomar. A arte talvez, seja uma saída da qual eu acredito. If you want to be a hero, well just follow me.

Obs.: Este texto foi escrito sob um momento de euforia por parte da escritora.

5 comentários:

  1. Demais. JL era incrivel e deixou o mundo um pouco menos genioso em relação à música.
    Depois dele, só vieram cópias.

    A sim, meu ingresso do Paul McCartney está garatido...hehehe

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  2. Boas reflexões, menina. Tudo isso é muito complexo e de difícil objetivação. É muito interessante essa relação dialética entre as gerações que fica latente ao nosso ser quando temos 20 e poucos anos: a busca por uma diferenciação versus o que se repete sempre igual entre os tempos; se poderia opor que essa relação não é necessária, e que uma saída seria a busca por uma dialética dessa dialética; mas a busca por uma dialética da dialética da dialética já seria a primeira dialética, o que se constituiria em uma saída viciosa, que, como num labirinto, nos levaria de volta ao lugar inicial. Mas existiria uma saída dessa casa do fauno? É preciso sair dessa circularidade? Como harmonizar as tendências opostas da vida, o mesmo versus o diferente? Acho que é para isto que suas reflexões estão apontadas: compreender a complexidade das forças, o que é aparente e o que é núcleo, o que resta e o que se modifica em nós. Há uma série de temas interessantes e complexos nas suas reflexões, como a questão da fama, da banalidade, do divino, do niilismo, etc., mas acredito que o aspecto principal seja este, a saber, o da tentativa de refletir sobre a questão da juventude, que se desenrola em seu aspecto primordial como a contradição entre o novo e velho, o diferente e o mesmo, o estabelecido e o revolucionário e todas as subcontradições que essas contradições iniciais remontam.

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  3. Olhe, mandou muito bem! Que venham outros momentos de euforia! :)

    Beijos e bom final de semana!

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  4. Lindo!

    Isto rejuvenesce aquela genuína e pura veia punk, cheia de energia, atitude e consciência. Algo fundamental em nosso ar para mantermos um mínimo de dignidade.

    Como disse Clarice acima: "mandou muito bem! Que venham outros momentos de euforia! :)"

    Tudibom!

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  5. Paul McCartney detonou...só falo isso,arregaço total

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Comentários.

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